Fernanda Junqueira denomina sua recente exposição de “Conjunto Vazio”, resultado de uma pesquisa onde procurou dar realidade sensível à ausência. O que gera um paradoxo, porque quando a artista dá vida à ausência, esta torna-se presença. Esta contradição é evidenciada com tremenda intensidade, pois ao caminharmos entre suas obras, uma das primeiras impressões que colhemos é o registro de seus toques, de sua expressão. Há sim, vazios, porém não são estes que predominam, mas um conjunto de belas formas carregadas de sensibilidade, de vida. Tanto nas pinturas como nas grandes esculturas, a impressão do fazer artístico destaca-se por si só, a expressão da artista é transposta às superfícies escolhidas de forma sincera e vigorosa. Talvez porque Fernanda ataque ambas superfícies diretamente, com as suas próprias mãos.
As pinturas são formas em linhas grossas, que atraem o olhar dos espectadores com sua liberdade e simplicidade. São círculos em pintura que dialogam com círculos ainda maiores, em barro queimado. Fernanda atua nos dois espaços. As cerâmicas são cheias de autoridade, poderíamos até, imaginá-las desenterradas em alguma escavação em terras antigas. Como a artista nos adverte, “sobre a areia, são marcas, vestígios, memória”. Mesmo as pinturas, como registros gráficos, são capazes de nos transportar para esta ilusão.
As cores escolhidas – ocre e grafite – parecem querer sublinhar esse tom nostálgico. São definitivamente obras que trazem uma história, uma vida. Não, não há ausência, nem mesmo matemática; seus trabalhos expostos transbordam intenção, e por fim, registram uma instigante experiência estética em nossas lembranças.

texto crítico da exposição individual Conjunto Vazio, no Centro Cultural Maria Antônia, São Paulo, SP. 2003.

 

Fernanda Junqueira named her most recent exhibition  “Conjunto Vazio” [“Empty Set”], the result of research in which she has tried to give a sensitive reality to absence. This creates a paradox since when the artist gives live to absence, it turns into presence. This contradiction is shown with tremendous intensity when we walk among her artworks; one of the first impressions we have is of the traces of her touch, of her expression. There is indeed emptiness but what prevails instead is a set of beautiful shapes full of sensibility and life. In both paintings and large sculptures the impression of the art making is itself the highlight. The artist’s expression is transposed to the chosen surfaces in a sincere and vigorous way; perhaps, because Fernanda approaches both surfaces directly with her own hands.
     The paintings are forms made in thick lines that attract the spectators eye with their freedom and simplicity. Painted circles dialogue with much larger circles made in burnt clay. Fernanda works in the two spaces. The ceramics are so full of authority that we could even imagine they were unearthed from an archaeological site. As the artist warns us: “over the sand, there are marks, vestiges, memory.” Even the paintings, as graphic symbols, are able to lead us to this illusion.
     The chosen palette in tones of ochre and graphite seems to underline this nostalgic tone. The artworks definitely carry a history, a life. No, there is no absence, not even a mathematic one. The pieces exhibited overflow intention and ultimately are a stimulating aesthetic experience in our memories.

Text for "Empty Set" Solo Exhibition' catalogue, Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo, SP, 2003.

English Translation: Gustavo (Gus) Moura de Almeida, TATO-The Art Translation Office.

Fabiana Werneck