Gustavo(Gus) Moura de Almeida
Pedra, Água e Vida
A visita à exposição de FERNANDA JUNQUEIRA intitulada “Jardins Submersos: um espaço líquido” (contemplada pelo Prêmio Projéteis FUNARTE de Arte Contemporânea – 2013) é uma experiência que se inicia ao se subir pela escada em caracol - revestida em mármores de Lioz e Bege-Bahia - rumo ao mezanino, deste ícone maior da arquitetura moderna brasileira - o Palácio Gustavo Capanema.
No espaço expositivo, subjacente ao jardim do terraço, cujo projeto de paisagismo é assinado por Roberto Burle Marx, vislumbramos, em apenas um olhar, o amplo salão deste generoso espaço que tão bem acolheu a instalação multimídia concebida pela artista especialmente para o local.
Ocupando uma área de 425 m2 compreende-se nada menos que 231 piscinas constituídas em uma espécie de polímero termoplástico esbranquiçado - formando um total de cinco “canteiros-aquáticos” em formas amebóides - todas elas alinhadas em uma grande grade cartesiana discretamente aparente, na qual se pode perceber uma gradação cromática feita com a diluição de pigmentos nas tonalidades do claro azul-turquesa ao escuro azul-anil.
A partir deste dado, tem-se duas impressões concomitantes e imediatas. A primeira é que, não obstante cada um dos grupos de piscinas esteja separado por caminhos sinuosos, eles parecem estar ligados por vasos comunicantes invisíveis. Além disto, ao percorrer o passeio proposto, sentimos que, apesar de toda a instalação possuir a altura de mínimos seis centímetros, na medida em que o visitante se aproxima do fundo da sala, maior é a profundidade deste mergulho visual.
Tais características emprestam à obra o singular valor da unidade, a qual extrapola o próprio mezanino em que é exibida, uma vez que por ter sua forma diretamente inspirada no desenho de Burle Marx do andar acima (o qual sofreu mínimos ajustes de escala em virtude de uma melhor adequação ao espaço dotado de dez colunas de sustentação), encerra uma ligação entre a água - elemento cada vez mais raro, precioso e geopoliticamente estratégico - e a manutenção de toda e qualquer forma de vida. O que incluí não apenas como metáfora o jardim do outro patamar, mas também nos três vídeos projetados de modo contínuo e em eixo vertical sobre polígonos centrais formados pelas piscinas da obra. As projeções, vistas em um percurso inverso, representam cenas líquidas, quais sejam: a superfície lacustre (proveniente da própria residência do paisagista), onde se vê ninféias, palmeiras e o reflexo do céu azul; assim como, pingos de chuva e seus círculos concêntricos (esta parte dotada de som); e por fim - e porque não dizer (re)começo -, dois frágeis, encapsulados e incansáveis peixinhos dourados a nadar e a perscrutar saídas possíveis mas nunca encontradas.
Resenha crítica elaborada para o curso "Laboratório de Pesquisa e Prática de Texto em Arte", ministrado por Fernanda Lopes, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Rio de Janeiro, Inverno de 2014.