Aquarelas Submersas
Os olhos de Fernanda Junqueira miram o papel e as “piscinas” que ela mesma fez. O ateliê, em um antigo casarão na velha Lapa, é agora sua arena. Os olhos — sempre eles — giram espertos de um lado para o outro. Não há oxigênio nem espaço para a ingenuidade. Não cabe, de jeito nenhum, improviso. Mas, ao contrário, a operação que irá realizar exige determinação e rigor. Seu cabelo está preso; os músculos contraídos denunciam a gravidade da hora chegada. Vai começar. A artista, com o papel em branco nas mãos, precipita o movimento decisivo em direção ao azul. O pulso lateja, o suor não é o do verão carioca de mais de 40 graus. Debruçada sobre suas ideias e segura dos procedimentos que minuciosamente elegeu, a artista nada delega: calcula o tempo do mergulho, agita o papel, movimenta a “piscina” e tudo o que pode. Então retira a obra. O golpe foi dado nesse preciso instante. Em silêncio, aguarda que o acaso se consuma. Assoma agora ao seu olhar de artista um outro momento. Fixa-se sobre a aquarela como quem deseja um diálogo, um reencontro com o imaginado, uma aceitação para com as novidades e surpresas próprias do processo que afinal de contas escolheu. Tudo se encontra definitivamente apaziguado como se aqueles azuis jamais pudessem estar prontos antes de serem vistos. Ali.
Texto de apresentação da exposição Aquarelas Submersas, Galeria Múltiplo Espaço Arte. Rio de Janeiro, fevereiro de 2014.
Maneco Müller