Guilherme Bueno
INTUIÇÃO PONDERADA
Voluminosos, de Fernanda Junqueira, nascem da convergência e interação de uma sofisticada postura frente ao ato produtivo da arte. Fundam-se no instigante princípio da intuição como programa. Esta suposta contradição ativa a positividade luminosa com que a artista aceita lograr um fato diante da experiência histórica da arte e sua ontologia, nela perscrutando respostas onde residiriam seus fantasmas, lugares comuns e tabus: o gesto, a forma, a superfície, o objeto... Ao gesto índice de êxtase e transbordamento na literalidade da matéria, sua pintura o comprime em uma espessura mínima. Em outra situação, correias de borracha enovelam-se ensimesmadas, fazendo com que uma linha circular multiplique-se indefinidamente.
Pode-se ser expansivo e discreto de uma só vez? Restringir aqui cria vetores e recursos. Os testes exploratórios das obras bi e tridimensionais, transplantando suas respectivas evoluções de uma parte a outra, mais do que a afinidade de raciocínios, tece os fios de um dispositivo quase instalativo. A linha reveza o local de sua existência, se interpenetra, palmilha diversas configurações e sua espontaneidade casual, imprevista, demarca um modelo espacial contínuo que ora se verifica na superfície da tela, ora salta e arrisca sua desenvoltura no volume.
Este “sistema não programático” altera a tensão da sensibilidade e sua objetivação: suspenso um “estado de espírito” performático e a ansiedade do gesto confessional (as superfícies de borracha sobre a tela imprimem um sentido de ordem que retém a pintura de derramar suas camadas) corporifica-se um empirismo elucidativo, uma crítica da razão sensível, diálogo profundo – ainda que informal, flexível – com toda uma cultura plástica vista sem temor ou intimidação, mas como interlocutora ativa e indubitavelmente receptiva, cujos horizontes, em sinal de reconhecimento, se alargam a cada um destes achados valiosos.
Texto crítico para o convite da exposição individual, Voluminosos, Galeria 90 arte Contemporânea, novembro 2005.
PONDERED INTUITION
Voluminous, by Fernanda Junqueira, are born from the convergence and interaction of a sophisticated posture towards the productive act in art. They are founded on the instigating principle of intuition as a program. This supposed contradiction activates the luminous positivity with which the artist accepts to attain a fact facing the historic experience of art and its ontology, searching for answers in it where its ghosts, common places and taboos would reside: the gesture, the form, the surface, the object… The gesture indicating ecstasy and the overflowing into the literality of matter are compressed by her painting in a minimum thickness. In another situation, rubber belts curl around themselves, in such a way that a circular line multiplies indefinitely.
Is it possible to be at the same time expansive and discreet? Here, restriction creates vectors and resources. The exploratory tests of the bi and tridimensional works, transplanting their respective evolutions from one part to another, more than the affinity of reasoning, weaves the threads of a device that almost works like an Installation. The line varies its place of existence, interpenetrates itself, palms various configurations and its casual, unpredictable spontaneity limits a continuous spatial model that at one moment is verified on the canvas surface, and at the next jumps and risks its nimbleness on volume.
This “non-programmatic system” alters the tension and objectivity of sensibility: suspended performative “state of mind” and anxiety confessional gesture (the rubber surfaces on the canvas imprint a sense of order that keeps the painting from shedding its layers) an elucidative empiricism is embodied, a critic of sensible reason, a deep dialogue – despite being informal, flexible – with a whole plastic culture seen with no fear or intimidation, but as an active and doubtlessly receptive interlocutor, whose horizons, as a sign of recognition, enlarge at each one of these valuable findings.
Text for "Voluminous" Solo Exhibition' catalogue, Galeria 90 Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ - 2005.
English translation: Paulo Henriques Britto